terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Porre

Acordei de ressaca. O teto do quarto girava, a boca estava amarga, cabeça estalava. Culpado? Foi o meu filho que me presenteou com uma cachaça pra lá de boa, chamada “Porreta”. Nome sugestivo, não é mesmo? Ele, para descontar os erros paternos, fez os maiores elogios à bebida, afirmando que até o Perdê (nome de um amigo que despenca depois do primeiro copo) tomou todas e ficou de pé. Conclusão: numa propaganda enganosa, cai como um pato!

O pior é que não me lembro nadinha do que aconteceu. Fui perguntar para a minha mulher do ocorrido e ela permaneceu trancada da Silva. Aliás, durante todo o dia. Recebi o aviso: perigo à vista! Depois, fui conversar com o meu filho: Fiz alguma bobagem? Respondeu seco: Não vou te contar! Isso aumentou a minha angustia. Depois do porre sempre vem a culpa, o mal-humor, e chego nesta conclusão: beber é ruim, mas a bebida é muito boa. Mas para acalmar o ambiente - tava pesado, pois ninguém olhava pra minha cara - tentei fazer algumas gracinhas e até a empregada chutou o cachorro morto: Vai começar tudo novamente!
           
Na solidão da ressaca, fui ao banheiro, sentei no trono na mesma posição que o Pensador, de Rodan. Fiquei a tagarelar: Quem sou eu? O que foi que fiz? Daí, Eureka..., acendeu uma luzinha nas minhas parcas ideias e veio a solução: vou culpar a minha mãe pelo ocorrido. Isso mesmo: minha mãe Alcina. E por quê? Antes da resposta, caro leitor, não pense que estou ainda bebaço pela solução apresentada. Veja a minha lógica: dona Alcina, no alto de seus 93 anos, toma escondida seus goles da “mardita” e eufórica diz: Esta água benta me conserva! E bota conserva nisso, a velha está em forma, lúcida e, agora, sem censura nenhuma. Está uma praga!

Ora, se quero viver por muito tempo, achei a fórmula na seguinte frase: siga o exemplo que nasce dentro de casa. Tenho certeza que com esta afirmação, siga o exemplo de dentro de casa (meu Deus, estou repetindo a frase. Será que continuo meio bêbado?) eles não irão me contestar, porque dizem o mesmo para mim: Você não se emenda, só pensa nestas bobagens de política e cultura. Isso é gastar vela para defunto ruim. O bom é o que acontece dentro de casa.

Pois bem, quando afirmei, diante de todos, a causa do meu infortúnio --- o crime pertencia a genitora --- foi só risada e até bateram palmas para mim. Conclusão: fiquei mais desacreditado. E para resgatar um pouco da autoestima, escrevi este artigo.

Reafirmo: neste ano novo, siga o exemplo que nasce dentro de casa

2 comentários:

Carlos Vinícius disse...

E nao passamos de meros repetidores do que a nossa patria-mae faz conosco

Mário Sérgio de Moraes disse...

É isso aí. Como já disseram: “Povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”.

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