terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Contrariado, admito…


Não sou corinthiano. Meu coração é são paulino com História para contar. Mas, entretanto, todavia e contudo devo admitir - a contragosto - que o Corinthians é e sempre foi o retrato mais profundo do povo brasileiro. E por quê? 


Se descermos na raiz, este time tem nas suas cores - o preto com o branco - a nossa mulatice. Está entranhado no extrato mais pobre e sofrido de nossa gente. Da zona leste de São Paulo: cerealistas, pedreiros, frentistas, benzedeiras, padeiros, lavadeiras, putas e desempregados. Quer mais? Também árabes, espanhóis, nigerianos, etc. Também aprenderam (ou foram obrigados?) a “se virar na vida”, senão sifu... Assim criaram o molejo, a boa malandragem e a improvisação como sua arma de defesa. Quer mais? Tem garra... garganta... gana...

Volto a admitir: neles - são nossos principais adversários (não inimigos) -  quando o vento está contra, o tufão é obrigado a recuar porque são foda... Apesar do nosso currículo, bem maior, num item eles estão à frente: o bum... bum... bum... deles estão 0.5 segundo à frente.

                               

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Niemeyer


Pelas suas linhas
ficamos mais alinhados
sinuosos e sensuais
desenhando sua arquitetura
nas ondas do mar.
Pelas suas surpresas
ficamos mais atônitos
suspensos em sonhos
desenhando sua arquitetura
nas pátinas do olhar.
Pelo seu socialismo
ficamos mais rebeldes
estudiosos e solidários
desenhando sua arquitetura
no verão de nossa vida.
Pela sua doçura
estamos mais contemplativos
meigos e risonhos
desenhados pela sua arquitetura
que a beleza é leve. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Carta ao Felipão

Caro Felipe, prefiro chamar-lhe assim… do que pelo ÃO ao final do seu nome. Este jeito de por grandiosidade no término das palavras - saradão, fudidão, machão - para aceitá-las é burrice. Se assim fosse a corrupção deveria ser nosso feijão com arroz.

Mas aqui o assunto é outro. O drama é o futebol. Caso complicado... veja o seguinte exemplo: na metade dos anos 70, e principalmente dos anos 80, surgiu o pensamento que o nosso jogo dependia do chamado volante. Como o nome afirma deveria ser valente, “macho”, brigador e, por isto mesmo, avesso ao drible e à criação. O jogador que mais encarnou este espírito foi o Dunga. Como Dumbo, de Walt Disney, tem orelhas largas, pesadão e voa como um elefante sobre os outros. Sua virtude máxima é roubar a bola dos adversários e passar a pelota para que outros continuem a jogada. É o jogador boi, cara quadrada de obtuso, queixada à frente no comprimento e cumprimento do dever.

E daí? Ora, Felipe, isto - ser soldadinho de chumbo - é bom para o futebol alemão. Os jogadores de lá tem nomes de caminhões de carga: Von Krugger, Wagner, Rudolf. Suas mulheres parecem sargentonas. Suas cinturas assemelham-se a troncos de árvore. Suas jogadas são boladas como estratégias de guerra: primeiro artilheiro, zagueiro rompedor, goleiro com cara de soldado.

Pois bem, por aqui a cultura é outra: não necessitamos de nazista e sim de passistas. Nossos jogadores devem ser do drible, da ginga, da firula. Cintura fina e ar de moleque. Olha esses nomes históricos: Didi, Zito, Pelé, Pepe, Vavá, o baixinho Romário, etc. Seus nomes são diminutos com tantos inhos do carinho feito por suas jogadas. Fora com os ÃOS nos nomes e no futebol.

Então, por favor, não transforme nossa seleção numa coleção de brucutus. Já perdemos a última Copa do Mundo por isto. Agora, será por aqui.