segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Desigualdade, o fracasso da esquerda - por Clóvis Rossi


Compartilho com vocês, na íntegra,  o ótimo artigo de Clóvis Rossi que foi publicado na Folha de S. Paulo neste domingo, dia 26. 

No Brasil, os mais ricos recebem do governo 13 vezes mais que a turma do Bolsa Família
O único metro usado para medir a desigualdade chama-se índice de Gini, no qual o zero indica perfeita igualdade e 1 é o cúmulo da desigualdade. O Brasil de fato melhorou, de 1999 a 2009: seu índice passou de 0,52 para 0,47.Acontece que o índice mede apenas a diferença entre salários. Não consegue captar a desigualdade mais obscena que é entre o rendimento do capital e o do trabalho.
Escreve, por exemplo, Reinaldo Gonçalves, professor titular de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos raros economistas que continuaram de esquerda após o PT chegar ao poder: 
"Com raras exceções, essas políticas [as do governo Lula] limitam-se a alterar a distribuição da renda na classe trabalhadora (salários, aposentadorias e benefícios) sem alterações substantivas na distribuição funcional da renda, que inclui, além do salário e das transferências, as rendas do capital (lucro, juro e aluguel)." 
Há pelo menos um dado que faz suspeitar seriamente de que a tal distribuição funcional da renda piorou: no ano passado, o governo federal dedicou 5,72% do PIB ao pagamento de juros de sua dívida. Já o Bolsa Família, o programa de ajuda aos mais pobres, consumiu magro 0,4% do PIB. 
Resumo da história: para 13.330.714 famílias cadastradas no Bolsa Família, vai 0,4% do PIB. Para um número infinitamente menor, mas cujo tamanho exato se desconhece, a doação, digamos assim, é 13 vezes maior. 
Como é possível, nesse cenário, que se repete ano após ano, reduzir-se a desigualdade na renda?
Vale a reflexão.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Presentes que mereço


Mereço muitos presentes neste Dia dos Pais. E por quê? Sei que sou um resumo de todos os progenitores (palavra feia, não?). Aliás, somos todos razoavelmente iguais. Para provar o que digo, sou assim: quando brigo com meus filhos, quem resolve a parada é a minha mulher. Quando penso em dar festa para eles falo só no custo da farra. Eles não me contam tudo, só aquilo que eu acredito. Assim, concluo, sou típico e mereço muitos presentes. OK!

Mas como meus filhos vivem também na pendura (o dinheiro deles sobra quando estão com seus amigos) não sei o que ganharei. Mas tentarei adivinhar. Eis aqui o que os danadinhos poderão me oferecer:


Presente 1: soro da verdade. Para eu aplicar em mim mesmo e ficar estrebuchando de tantas bobagens que sempre disse. Depois eles mostrariam isto num vídeo para todos e, decerto, falariam: “Eu não disse que ele é meio maluco?”

Presente 2: uma sacola cheia de produtos recentemente comprados no supermercado com o meu dinheiro (é a mãe que oferece o cartão!). Eu poderia com isto calcular a inflação do país (o que recebo é sempre menor do que gasto) e ficar “puto da vida”. Com isto, melhoria minhas aulas de História metendo o pau em todos os governos. Hoje sei que o professor é a segunda profissão mais velha do mundo, rivalizando com a primeira.

Presente 3: alguns livros. Para eu jogar no colo de algumas autoridades locais --- Cultura por aqui é coisa do diabo --- e eles me chamarem de terrorista.

Presente 4: um santinho do Padre Rodolfo (meu santo protetor). Para rezar todas as noites quando meus filhos, em plena madrugada, saem para ir ao bar, shows, baladas, etc. E, ainda por cima, com “aquela mulher” que eu não gosto.

Presente 5: colar de alho. Para espantar os vampiros quando fico “tomado”. Mas quando isto acontece? É quando alguns vereadores desta cidade falam em Ética, democracia e juram que fiscalizam o Executivo.

Presente 6: revista de palavras cruzadas. É para o exercício da minha memória que ultimamente já está esquecendo os nomes de amigos, parentes e outras pessoas ditas “importantes” (estas finjo que esqueço).

Presente 7: uma robô doméstica. Para eu repassar à minha mulher, que só reclama da empregada como se a culpa fosse minha.

Se receber um destes presentes saberei, definitivamente, que tudo aquilo que ensinei deu certo. Mas se ganhar tênis, camiseta ou pijama eu devolvo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Minha nada mole vida

Estar casado com mulher inteligente é um saco. Ela sempre encontra meios de perturbar nosso sossego, fisgar os nossos pontos fracos. Agora, a minha está a caçoar do final das minhas benditas férias. Afirma: “sua vagabundice vai acabar”. E depois, com voz tremulante: “Está chegando a hora de você trabalhaaarrr... As auuulllas estããão chegando...” E, depois, profetiza: “Nada é tão ruim que não possa ficar ainda pior”.

E, caro leitor, o terrível é que ela tem razão. Voltar para o “basquete” (termo do meu sogro) é uma sacanagem. Ainda mais sendo professor. E por quê?   Nesta merreca escola, a atual, o aluno é vítima de bullying e o professor de burring (burro em inglês). Mas você duvida disto? Pois bem, para confirmar o FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), apresento uma série de “pérolas” que colecionei desde 1998 corrigindo provas. Eis a çabedoria esposta em redassões:

  • Prova um: Capitalismo é o contrário de interiorismo.
  • Prova dois: Quilombo dos Palmares é importante feira onde vende-se muita carne.
  • Prova três: Onde o sol nasce é o nascente, onde ele desce a gente não sabe.
  • Prova quatro: Solon foi o principal ditador da democracia grega.
  • Prova cinco: Tiradentes depois de morto foi enforcado.
  • Prova seis: O hino nacional brasileiro foi feito por Ozonio, o Duque da Estrada.
  • Prova sete: Para renovar o novo é precizo mudar e sair diferente da inovação.
  • Prova oito: Foi Dracon que criou a lei que dizia que a lei era grega.
  • Prova nove: As leis foram criadas na modernidade porque estavam na moda.
  • Prova dez: Professor, eu não entendo o que você explica. É melhor você ditar.

Caro leitor, qual a causa disso? Não sei... Só sei que a culpa não é dos alunos, muito menos dos professores. Da política educacional? Dos empresários de deseducação? Do diabo? Será que somos todos hipócritas ao preferir uma TV LCD 50” em lugar de mobilização social pela cultura?

Um amigo disse que a escola é um oceano onde os professores afundam, os alunos bóiam e os donos passeiam.  E encerro com um fato esclarecedor: estava tomando cafezinho na sala dos professores e falei para um colega:
- Parabéns! Parabéns mesmo, você conseguiu o título de Doutor, vai subir na carreira.
- Fala baixo, Mário Sérgio, senão eles me mandam embora – ele me respondeu.

Conclusão: de escola e da mulher a gente precisa tirar férias!