quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Aeróbicas religiões

Quando participo de um culto religioso, hoje em dia, tenho dificuldade em compreender se estou ou não num espaço de orações. Fico a duvidar: será que não me enganei de endereço? Ou entrei num show místico? Ou num supermercado da fé? Ou num espetáculo catártico? Ou se estou numa peça teatral próximo do Juízo Final. Ou se, no próximo ato cênico, uma foca empinará no altar uma bola. Não sei...

Se a intenção do encontro (cena: multidão ondulando uniformemente seus braços aos céus em rostos padronizados de êxtase) é o emagrecimento, com ajuda divina, topo de bom grado a aeróbica que se faz. Se a idéia é o simples divertimento para ouvir música religiosa, na ausência de uma introspecção espiritual, “limpando o fígado”, compreendo. Se a jogada é culpar o Demo pelos problemas acontecidos, condenarei a Eliane pelos meus dramas. Se as igrejas só falam dos Céus e não da desigualdade social arquitetada pela exploração social, discordo. Se o Papa, da minha Igreja Católica, afirma que é pecado ter relações sexuais antes do casamento, emudeço com medo do inferno. Enfim, tô perdido...

Outro dia, estive numa cena típica: ia passando pela rua, quando um pregador me abordou com a pergunta: “Você lê a Bíblia?”. Fiquei confuso na indagação. Se eu respondesse que sim, ele poderia fazer uma avaliação do meu conhecimento. Eu, evidentemente, poderia “dançar” (ser reprovado como professor é vergonhoso). Se respondesse que não, hummm... ele faria uma preleção sobre as minhas carências em “apenas” 60 minutos. Assim não tive saída, respondi: “Estou lendo”. Ele fez uma cara de espanto e emendou: “Se assim é, o Pai vai te ajudar no seu ganho mensal”.

E daí? Fiquei contente. Não é que o profeta sacou que entro, todo final de mês, no cheque especial? Danadinho mesmo... Será que ele, inspirado pela divindade, viu que a minha feição é de amargurado devedor? Mas o que interessa: profetizou em meu beneficio a teologia da prosperidade. Que legal! Isto incentivou a minha imaginação: se assim for, irei trocar de carro. Ou ao menos posso comprar azulejos para reformar meu decrépito banheiro.

Mas, Eureka! Tive uma grande idéia diante do anunciado sucesso. Vou bolar um aplicativo para tablets onde venderei a minha fé por US$1,99 para milhões de pessoas, antes que as igrejas ponham a mão neste tesouro.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Viva a Negritude


Diz uma marchinha de Lamartine Babo: “Quem foi que descobriu o Brasil?/ Foi seu Cabral/ Foi seu Cabral/ No Dia 22 de abril/ Dois meses depois do carnaval”. Pois bem, não querendo discordar do mestre --- nosso caminhãozinho de areia fica ainda menor diante da sua grandiosidade --- faço um reparo: o verdadeiro inventor do Brasil foi o negro.


Como? Diante da exploração dos portugueses, os escravos negros criaram uma resistência muito eficaz: a ginga!

 Ginga no coice da capoeira.
 Ginga na dança e no drible.
 Ginga no vocabulário ao conjugar as dificuldades no gerúndio (Como você vai? Sábia resposta: eu to levando...) onde nada se conclui e tudo se esclarece na intuição. 
Ginga no ritmo das músicas para ensinar “quem canta seus males espanta”.
Ginga na religiosidade, na mistura dos credos. Aliás, fazer uma “simpatia” não faz mal a ninguém. 
Ginga na sexualidade para espantar a hipócrita castidade do pecado católico.

Por tudo isto nós nos beijamos muito. Somos os campeões na face da Terra. E, graças aos Orixás, pela minha boca também!