segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Historiador descobre foto no DOPS de policial assassinado na ditadura


Arquivos do professor Mário Sérgio de Moraes indicam nova versão para mortes ocorridas nos "Anos de Chumbo"

Por Noêmia Alves - Mogi News

Semelhanças entre as imagens do tenente José Ferreira de Almeida e do jornalista Vladimir Herzog chamaram a atenção do historiador

Uma foto descoberta pelo historiador, escritor e professor universitário Mário Sérgio de Moraes pode ajudar a reescrever uma nova história das mortes em série durante a ditadura militar.

A imagem datada de 12 de agosto de 1975 seria do tenente José Ferreira de Almeida, morto numa cela do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão subordinado ao Exército.

Dados oficiais indicam que a morte ocorreu por suicídio, mas segundo apurou Moraes, há fortes indícios de que o policial tenha sido assassinato. Afirmou:" Digo isto porque a foto do tenente José Ferreira de Almeida, que foi revelada pelo inquérito, é uma imagem muito semelhante àquela mais conhecida do jornalista Vladimir Herzog", contou. "Ora, como o Vlado morreu em data posterior, 25 de outubro de 1975, e esta foto do tenente é de agosto, verifica-se, por comparação, várias ´coincidências´", pontuou o historiador.

Ambas as imagens mostram os corpos na mesma posição com joelhos dobrados. A versão do governo também é a mesma: o suicídio por enforcamento com o cinto. A cela é igual - DOI-CODI número 1. A análise foi feita com base nos arquivos oficiais. Moraes que teve acesso a eles por ser integrante do Núcleo de Estudos da Universidade de São Paulo (USP). 
"Em síntese", explica o professor, "os órgãos repressivos tinham um ´modus operandi´. Eles montavam um cenário, iguais as versões de atropelamento ou suicídio dadas sobre os oponentes políticos, para diferentes situações tentando disfarçar os trágicos acontecimentos. Não tenho dúvidas de que assim como Vlado, o tenente e tantos outros presos ´subversivos´ foram mortos e havia um mesmo molde fotográfico de dissimulação feito pelos torturadores para que seus atos macabros passassem por naturais", revelou Moraes. "Mais do que a verdade é preciso lutar para que a memória e história desses fatos não morram", finaliza. 

Direitos Humanos

Na época, o fato foi denunciado ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, grande defensor dos Direitos Humanos. O religioso teve um diálogo com o comandante do II Exército, afirmando: "isto se realiza de dois em dois meses e já sabemos quais as classes escolhidas para os próximos arrastões. Em outubro será a vez dos jornalistas". 
A declaração prenunciava a tragédia com relação a centenas de detidos. "O comportamento e o prelúdio das mortes foram revelados durante a pesquisa feita para meu livro ´O ocaso da ditadura´, em que analiso as circunstâncias sociais da morte de Herzog. Meu irmão, Dr. Márcio José de Moraes, foi o juiz que condenou o Estado pelo uso da tortura", disse o historiador.

(Matéria publicada no Mogi News no dia 21/10/2012.)


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