terça-feira, 22 de maio de 2012

Xuxa e o cabaré das crianças

    "Fantasia de um lado versus realidade de outro"  
                       (Foto: Xicão Jones/Xuxa.com)
Neste domingo fiquei solidário com a Xuxa. Seu depoimento na TV Globo foi comovente ao relatar o abuso sexual que sofreu na infância. Seu trauma, como ela afirmou, foi intenso. Sentia-se “suja”. E essa dor produz uma inversão psíquica na vítima. Crê-se culpada; como mulher, interiormente, se condena; como amante, sente-se incompleta; humana, vê-se como coisa.

Importante é a denúncia da pessoa Xuxa. Ajuda inúmeras mulheres a exteriorizar o fato e compreender a sua situação. Existe aí a possibilidade, não somente da punição do psicopata, mas da recuperação da autoestima.

Esse gesto corajoso consolida um dos princípios básicos dos Direitos Humanos: o corpo é inviolável. Somente com a permissão da própria pessoa, o outro (namorado, médico, estilista, etc.) pode tocá-la. Desde um consentimento sexual ou permissão de uma cesariana, até o simples gesto de ser revistada numa abordagem policial.

No entanto, caro leitor, chamo a atenção para outro fato relacionado ao abuso do corpo. Agora, incentivado pela apresentadora Xuxa desde os anos 80. Ela foi uma das estimuladoras de ter transformado o corpo das crianças numa vitrine do consumo: sapatinho, cintinho, chapeuzinho, roupinha pink, etc. E daí? Ora, essas vestimentas carregam valores (como toda roupa!) de aceitação social por meio da sensualidade.

Isso cria na criança uma expectativa de ser “grande”, inclusive, com fantasias sexuais — ser doce, estar sempre disposta, ansiosa por novidades, rebolado nos quadris — que não se completarão na fase adulta. Fantasia de um lado versus realidade de outro. Isso, sem dúvida, levará a vítima a perguntar quando iniciar a sua vida sexual: será que tenho algum defeito? Por que não consegui atingir o clímax que pensava? Conclusão: frustrações e mais frustrações. Isso é um campo fértil para as neuroses.

Foi a celebridade Xuxa (não a pessoa em si) que potencializou o “cabaré das crianças”. Mais se compra, mais se vende as ilusões. Mais se goza, menos se tem prazer. No entanto, para a pessoa Xuxa, os nossos aplausos.

1 comentários:

Unknown disse...

leiam o cabaré das crianças por gilberto felisberto (1998)

Postar um comentário