terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sócrates era tricolor

 
Foto: Agência Estado
Gatos têm estilo. A bossa nova condensa estilo. Niemeyer, nas suas curvas arquitetônicas, criou um estilo. As curvas de inúmeras mulheres, em suas cinturas, possuem estilo. Orquídeas nascem estilosas. Os franciscanos estão à procura do estilo. Colares de pérolas enfeitam estilos. O cool jazz cria atmosfera para o estilo. Fontes, no marulho das águas, permeiam o estilo. Coincidências são sincronicidades de estilo. E o futebolista Sócrates, no toque de bola, encantava com seu estilo.

Certa vez, antes de ir para a Fiorentina, dando entrevistas para jornalistas italianos e bebendo bastante, um periodista lhe perguntou: “Você é um atleta?”. Ele respondeu: “Não, sou um artista da bola”. Pimba! Marcou mais um gol. De destreza e inteligência por sua improvisação, de precisão e simplicidade.

Tenho a impressão (uma certeza, na verdade!) que o “Doutor” decodificava o mundo - política, arte, religião, economia, emoção - dentro das quatro linhas do gramado. E sabia disso. Por quê? Ele sentia o quê os adversários desejavam. Pensava, com régua e compasso, a estratégia a ser usada. Incitava a torcida com seus punhos fechados. Desafiava as regras quando necessário. E criando improvisações, abria espaço para suas vitórias. Nossas vitórias!
                               
Ele era o que todos nós gostaríamos de ser. Um criador intelectual. Um bon vivant sério. Um cachaceiro que não fica bêbado. Um esportista político. Um mestre ensinando pelo seu corpo. Um improvisador - seu toque de calcanhar - que conserta o errado. Um Dom Quixote do futebol.

No fundo, com tantos dons, Sócrates era um tricolor. Do Botafogo de Ribeirão Preto. E, ainda mais, este texto, de um são-paulino, confessa a admiração por um “cracaço” do futebol. E da Cidadania!   

     

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