segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Eleições no Pará


Já se sabe do resultado eleitoral no Pará, para a criação dos novos estados: Tapajós e Carajás. A população, em quase dois terços, disse “não”. E isso já era esperado, pois muitos perceberam a inutilidade de outros centros administrativos na resolução de problemas sociais.

No entanto, alguns aspectos desse episódio devem ser debatidos. Em primeiro lugar, a boa inovação de consulta feita num plebiscito. Essa forma de participação direta é sempre bem-vinda. É preciso deixar claro: o voto representativo - pelas urnas nas escolhas dos políticos - é insuficiente para expressar a vontade popular. Daí a necessidade de todos apontarem, sem a intermediação de candidatos, suas vontades sociais. E ainda mais: isso também é pouco, enquanto não se resolver o “nó da questão”, o peso do poder econômico influenciando as decisões. É oportuno indagar: vivemos numa democracia ou plutocracia (governo dos mais ricos)? Responda você mesmo.

Mas qual o motivo da consulta “fora de hora”?

A causa dessa consulta regional está nas insatisfações quanto ao desenvolvimento desigual no Pará. A região de Carajás, por exemplo, é onde se concentra a exploração de ferro e agronegócio. Isso resultou na aceleração da desigualdade social com mais de 2/3 de sua população vivendo fora do mercado oficial de trabalho. Isso traz consequências: a cidade de Marabá, que seria sua nova capital, é a quarta em número de homicídios no Brasil e outras duas localidades, Itupiranga e Goianésia, estão entre as dez cidades mais violentas do país. No campo, prosseguem os conflitos agrários - lembram-se do Massacre de Eldorado de Carajás - entre latifundiários e posseiros?

Tapajós, a outra região pretendente, está isolada. Só detém 127 quilômetros asfaltados dos 5.300 quilômetros do estado que levam para outras capitais. Sua economia é feita na exploração da floresta pelo desmatamento. É lá que pretendem construir a hidrelétrica de Belo Monte. Índios, posseiros, desempregados da cidade, estão com poucas possibilidades de sobrevivência.

A região de Belém, embora possua o principal porto, está com problemas de arrecadação. Deixa de faturar anualmente 1,5 bilhões de dólares na exportação de minério por determinação de leis federais e só fica com 237 milhões. Somando a sangria do dinheiro público pela elite local, não se resolvem problemas sociais.

Conclusão: são três salas numa só casa/ onde falta pão, cama e fogão/ poucos mandam/criam a confusão/ e pela lateral/camuflam o essencial.


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