quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Corno

Em seu projeto de demolir a sociedade capitalista, o socialista Charles Fourier (1772-1837) investiu contra as raízes mais profundas do sistema: o casamento monogâmico. Idealizador de comunidades que prefiguravam o “amor livre”, tão em voga nos anos 60, ele escreveu o “Quadro Analítico dos Cornos”, com 76 tipos. Pois bem, inspirado nesta tipologia (detalhe: bato na madeira três vezes para não sofrer deste mal) apresento aos leitores, uma classificação histórica deste gênero humano:

Um. O corno feliz. É aquele que exalta as delícias de viver em paz, doce lar, estimulando todos a seguir seu exemplo. E a quem ele faz a apologia do casamento? É a quem lhe põe o chifre na cabeça. Segue o ditado: em casa de santo é que mora o diabo.

Dois. O corno recíproco. É aquele que dá o troco e continua pagando em espécie. Os dois buscam a glória na superação do outro. Seguem o ditado: quem ri por último não sabe o que vem atrás.

Três. O corno imaginário. É aquele que ainda não é corno, mas vive se lamentando que é. Sofre da dor porque acredita que é mais esperto. Segue o ditado: não se cansa por esperar.

Quatro. O corno doente. É aquele que, diante de seu estado físico, se abstém dos trabalhos da carne. Sempre na hora H diz que está com dor de cabeça. Segue o ditado: Na ausência do dono desponta o ladrão.

Cinco. O corno marcial. É aquele que é corno em tudo. Por seguir as regras - nunca falta ao trabalho, exalta a retidão do patrão, é obediente às autoridades - desconhece que ser certinho é a glória do vizinho. Segue o ditado: quem ajoelha não sabe rezar.

Seis. O corno ocupado. É aquele que trabalha, trabalha, trabalha achando que isto é o mais importante na vida. Imagina que sua mulher pensa a mesma coisa. Segue o ditado: Em casa de ferreiro o espeto é do outro.

Sete. O corno puro e simples. É o assumido. Sabe de tudo e se porta como um cavalheiro que faz as honras da casa. Quando perguntado, responde: Ela sabe o que faz. Segue o ditado: Sou, mas quem não é?

Oito. O corno condenado. É aquele sujeito feio, mas muito feio mesmo, que se casa com uma mulher extraordinariamente bonita. Quando casa já sabe do seu destino. Segue o ditado: Em público sou o mais conhecido dos homens.

Conclusão: não creio que estejamos em nenhum destes tipos, mas não indique este artigo ao seu melhor amigo. Ele vai achar que é uma “indireta”, cuidado...


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