quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo: amoródio!

Avenida São Luís, no centro, vista do edifício Louvre /
Imagem: Alexandre Kröner
Estar em São Paulo é viver sempre na iminência. De quê? Não sei. Perto da tragédia, também do maravilhoso, algo do inusitado, ao lado do horroroso, misturado ao desconhecido, junto com o embaraçoso. Enfim, no fio da navalha do desconhecido. A cada esquina algo está a sua espera ou a sua espreita. É um convívio diário do trabalho regado a muitos atalhos que a cidade - o bem e o mal são cúmplices - oferece (ou tira?) de tudo.

Assim, amamos São Paulo. Mas isso não é verdadeiro, também odiamos São Paulo, igualmente não real. Talvez, pela imprecisão do que sentimos, precisaríamos criar um novo termo: amoródio. Mas essa nova junção, do sublime com o rasteiro, também ficaria incompleto. E por quê? Ali, os amores, conflitos, desastres, junções ficarão eternamente sem um final; como um horizonte que tateamos, mas nunca possuiremos e, ao contrário, há de nos perseguir. Tudo ali se movimenta, transforma-se em algo, tão formidável quanto assustador, como um mutante fascinante e devorador.

Assim, São Paulo é, no fundo, no fundinho mesmo, o retrato de todos nós. Surfando perto do abismo.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

BBB: Big de quê?

“Pobre é a vida de quem precisa de heróis.”
                                              Bertold Brecht
Intimidades - se você briga com sua mãe, se falou mal do filho, deu pancada no irmão - devem ser reveladas? Quem se interessa pela vida do vizinho? Fulana se vestiu como? Outros devem saber o que faço dentro de quatro paredes? É fundamental experimentar pitadinhas diárias de ti-ti-ti? Pois bem, caso tenha respondido que isso é necessário e, por isso, assiste ao BBB, mesmo para falar mal de tal personagem (chega de hipocrisia em dizer que não gosta, mas assiste!), afirmo claramente: existe uma carência em sua vida. De quê? De qual conflito foge? Em que medida você é responsável pelo dado vegetativo de sua vida?

Concordou ou discordou das colocações acima? Tá legal... Mas o fundamental eu não escrevi. O que importa é perguntar: por que está acontecendo essa exposição da privacidade? Respondo com outra pergunta: será que nós mesmos não estamos nos transformando em personagens do BBB? Nossa vida não está sendo também invadida pelas imagens? Afirmo: se estivermos entrando num banco, na portaria de um prédio, se passarmos pela avenida 23 de maio, se digitarmos nossas intimidades ou preferências ideológicas, estamos sendo vigiados. Digo mais: na guerra do Iraque, os satélites tinham a capacidade de se aproximar a 30 cm do relógio de qualquer soldado.

Ora, mergulhamos numa sociedade da imagem. Ora, na diversão (BBB: Big de quê?). Ora, na vigilância. Com argolas da mesma algema de poder: o consumo. Não é mais preciso dar porrada, podemos ser escravos pela própria submissão. Somos bípedes, mas alguns adoram viver de quatro nas palavras de ordem: experimente, experimente, experimente.

Com isso, explodem os individualismos, os corpos narcísicos, as modelos com bundas plastificadas, a adoração religiosa em shows aeróbicos e os amores descartáveis. E, no vazio, por que não inspirar uma carreirinha para preencher a existência. Ou desistência?

E qual é esse poder que nos controla numa vida “fast-food”? Vá ao banco e veja qual o saldo da sua conta. E aproveite para problematizar o seu saldo ou déficit amoroso.


#CausosQueEuNãoEntendo - Big Brother Brasil

Compartilhe a foto no Facebook.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Causos que eu não entendo #3 - Cracolândia

2012 é ano de eleição.

Os governos estadual (PSDB) e municipal (PSD) planejavam uma operação na Cracolândia somente nos próximos meses. Só que até lá, o governo federal (PT) poderia interferir na região e ficar com os créditos de uma possível ação bem-sucedida.

Aí, o que fazem as autoridades paulistas - primeiro ou segundo escalão, não importa: de uma hora para a outra, como em um surto, resolvem agir de forma "precipitada" (foi esse o termo usado pelo Ministério Público).

Agora, responda:


  

Participe da #CausosQueEuNãoEntendo, compartilhe com sua rede de contatos no Facebook e Twitter e espalhe pulgas atrás das orelhas por aí. O incômodo pode ser o motor da mudança.

Ainda não conhece a campanha? Estamos no terceiro causo, veja aqui.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Que beleza de Cracolândia!

Morador da Cracolândia - Foto: Eduardo Enomoto/R7
Seguem algumas perguntas bem ingênuas (ingenuidade é doença): por que a ação repressiva realizada pela PM, na região chamada de Cracolandia, não foi acompanhada de algum órgão assistencial ou grupo de Direitos Humanos? E se apenas a repressão foi realizada, qual a explicação para o fato de que nenhum grande traficante foi preso?

Na outra ponta: será que as autoridades sabiam que sequer estava pronto o centro de acolhimento para 1.200 dependentes químicos? Depois da inauguração do abrigo, as cúpulas da Segurança Pública, Assistência Social e Saúde colocariam em prática a operação, que estava sendo planejada há dois meses. Por que não foi assim que aconteceu?

Outras indagações mais explícitas: foi mentira dos moradores dos prédios vizinhos a afirmação de que viaturas policiais passaram sobre corpos de viciados (Folha de São Paulo, 7/1 - Cotidiano)? E qual a razão do governador do estado proibir a divulgação, na última sexta-feira, de informações sobre a operação? Por que os comerciantes da região usam o termo “limpeza” para se referir ao ocorrido? Será coincidência perceber que essas mesmas autoridades já foram denunciadas em promover ações semelhantes - de “embelezamento urbano” - nas imediações da avenida Paulista?

Qual o motivo da ação ser realizada no começo do ano novo? Começar 2012 com o “pé direito”? Ou continuar com as “pirotecnias” habituais?

Caro indignado, saiba que a droga produz o mesmo efeito no ânimo do dependente, na intenção das autoridades e no objetivo do cirurgião plástico: deixar a mulher com uma aparência de 20 anos, somente da cintura para cima.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Causos que eu não entendo #2 - Comissão da Verdade

Dando continuiadade à nossa campanha #CausosQueEuNãoEntendo, apresento a segunda questão.

Participe, compartilhe com sua rede de contatos no Facebook ou Twitter e espalhe pulgas atrás das orelhas por aí - o incômodo pode ser o motor da mudança.




Confira também o causo #1 (Usina de Belo Monte) e continue acompanhando. Inclusive, qual será o próximo? Deixe sua sugestão.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Porre

Acordei de ressaca. O teto do quarto girava, a boca estava amarga, cabeça estalava. Culpado? Foi o meu filho que me presenteou com uma cachaça pra lá de boa, chamada “Porreta”. Nome sugestivo, não é mesmo? Ele, para descontar os erros paternos, fez os maiores elogios à bebida, afirmando que até o Perdê (nome de um amigo que despenca depois do primeiro copo) tomou todas e ficou de pé. Conclusão: numa propaganda enganosa, cai como um pato!

O pior é que não me lembro nadinha do que aconteceu. Fui perguntar para a minha mulher do ocorrido e ela permaneceu trancada da Silva. Aliás, durante todo o dia. Recebi o aviso: perigo à vista! Depois, fui conversar com o meu filho: Fiz alguma bobagem? Respondeu seco: Não vou te contar! Isso aumentou a minha angustia. Depois do porre sempre vem a culpa, o mal-humor, e chego nesta conclusão: beber é ruim, mas a bebida é muito boa. Mas para acalmar o ambiente - tava pesado, pois ninguém olhava pra minha cara - tentei fazer algumas gracinhas e até a empregada chutou o cachorro morto: Vai começar tudo novamente!
           
Na solidão da ressaca, fui ao banheiro, sentei no trono na mesma posição que o Pensador, de Rodan. Fiquei a tagarelar: Quem sou eu? O que foi que fiz? Daí, Eureka..., acendeu uma luzinha nas minhas parcas ideias e veio a solução: vou culpar a minha mãe pelo ocorrido. Isso mesmo: minha mãe Alcina. E por quê? Antes da resposta, caro leitor, não pense que estou ainda bebaço pela solução apresentada. Veja a minha lógica: dona Alcina, no alto de seus 93 anos, toma escondida seus goles da “mardita” e eufórica diz: Esta água benta me conserva! E bota conserva nisso, a velha está em forma, lúcida e, agora, sem censura nenhuma. Está uma praga!

Ora, se quero viver por muito tempo, achei a fórmula na seguinte frase: siga o exemplo que nasce dentro de casa. Tenho certeza que com esta afirmação, siga o exemplo de dentro de casa (meu Deus, estou repetindo a frase. Será que continuo meio bêbado?) eles não irão me contestar, porque dizem o mesmo para mim: Você não se emenda, só pensa nestas bobagens de política e cultura. Isso é gastar vela para defunto ruim. O bom é o que acontece dentro de casa.

Pois bem, quando afirmei, diante de todos, a causa do meu infortúnio --- o crime pertencia a genitora --- foi só risada e até bateram palmas para mim. Conclusão: fiquei mais desacreditado. E para resgatar um pouco da autoestima, escrevi este artigo.

Reafirmo: neste ano novo, siga o exemplo que nasce dentro de casa