"Não estamos repetindo os mesmos erros de falsos sonhos acontecidos quando da construção das usinas de Itaipu e de Angra dos Reis?" |
Venho ressaltar outro fato de tendência mais ideológica. Repare que o discurso governamental se utiliza do mesmo jargão do “progresso e desenvolvimento” apostando num promissor Brasil, semelhante aos militares que prometiam nos anos 70 o chamado Brasil Potência. Isso não é esquisito? Não estamos repetindo os mesmos erros de falsos sonhos acontecidos quando da construção das usinas de Itaipu e de Angra dos Reis? Qual o motivo dessa exaltação, que tanto mal fez anteriormente, num governo que se diz mais voltado a interesses humanistas?
Creio que as respostas podem elucidar os interesses do Brasil, de fato, e não os de promessas. E aqui um pouquinho de história: nos chamados “Anos de Chumbo”, o país atravessava um momento econômico com grande favorecimento voltado ao grande capital, principalmente multinacional. E daí? Isso potencializou a exploração da mão de obra local e a desigualdade social - os 50% mais pobres, que em 1970 detinham 14% do PNB (Produto Nacional Bruto), ficaram em 1976 com apenas 11%. Os 5% mais ricos aumentaram de 34% para 39% a posse da riqueza nacional. Foi o chamado “Milagre Brasileiro”.
Hoje, diante do fracasso do modelo ditatorial no uso do “porrete”, os últimos governos adotaram uma forma mais sutil de dominação. Sua forma é mais sofisticada no uso, não da coerção, mas na busca de um consenso por meio da inclusão pelo mercado. Integram pelo consumo, mas desintegram também. Como?
Ora, a explicação do discurso ufanista é que o governo, na defesa do poder econômico, tem a necessidade de criar uma imagem publicitária de um Brasil mais glorioso.
Veja: nos últimos oito anos, houve uma elevação de 57% no salário mínimo, em contrapartida os empresários tiveram um aumento de 400% nos lucros. Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o governo gastou nos últimos sete anos com o Bolsa Família por volta de 77 bilhões de reais; de outro lado, foram pagos em forma de juros 1,27 trilhões de reais - 14 vezes maior do que os dirigidos aos setores populares.
As informações são passadas de forma a criar “ondas” de bem-estar - a energia de Belo Monte em plena selva amazônica, o pré-sal no fundo do mar - pela sedução de uma promessa onde todos, no culto dos mercados, vitrines e suas compras, ganharão com as novas ousadias.
Será que os lucros serão socializados? Os impactos sociais e ambientais serão compensados pela distribuição dos benefícios? Você acredita nisto? Que Belo Monte será criado?
Creio que coincidências não são inexplicáveis. Mas, sim, tecem entre si mesmas causalidades. Você já percebeu que o nome Belo Monte é o mesmo da localidade onde houve o massacre de 30 mil sertanejos no massacre de Canudos, praticado pelo Estado brasileiro na igual defesa da “ordem e progresso”? Tristes sintonias...